
A província portuguesa esteve sediada, desde o início, em Lisboa no
convento de Nossa Senhora dos Remédios, primeiro convento português da Ordem dos Carmelitas Descalços, fundado em
1581. Para padroeiro do convento escolheu-se
São Filipe, em homenagem ao monarca reinante. Em
1604, quando o convento foi transferido para outras instalações, deu-se à nova casa a invocação de
Madre de Deus, tomando a província o nome do apóstolo São Filipe.
Mais tarde, quando se construiu o edifício definitivo, passou a designar-se Convento de Nossa Senhora dos Remédios. No convento funcionava também o noviciado. Na segunda metade do século XVII, os serviços da Procuradoria Geral da Ordem passaram para o
convento de Corpus Christi de Lisboa.
Os conventos femininos de
Carmelitas Descalços deviam subordinação e obediência ao Geral da Ordem e ao Provincial dos Descalços.
Em
1580 quatro padres carmelitas sob a orientação de
Frei Domingos Freire acompanharam a expedição de
Frutuoso Barbosa encarregada de fundar uma colônia na
Paraíba. Da carta de apresentação dos carmelitas destacados para ir ao Brasil, se conhecem também os nomes dos outros seus companheiros:
Frei Alberto de Santa Maria,
Frei Bernardo Pimentel e
Frei Antônio Pinheiro. Na mesma carta se encontra expressa a motivação destes carmelitas: «é obrigação nossa e de todos os religiosos que professam nosso modo de vida, servir a Deus e à sua Mãe SSma., dedicando-se à salvação das almas e incremento da religião cristã». A tentativa da colonização fracassou, por causa de uma violenta tempestade que dispersou os navios. Barbosa voltou para Portugal, mas os carmelitas ficaram em
Pernambuco e se estabeleceram numa capelinha dedicada a Santo Antônio, doada pelo governador de
Olinda. Chegando outros religiosos, chefiados por
Frei Pedro Viana de Portugal em
1583 e
1588, iniciaram as fundações de conventos. O primeiro a ser estabelecido em
1583 foi o
Convento do Carmo de Olinda, onde 13 anos depois já funcionava uma escola e um curso de teologia. Os religiosos se dedicavam também à evangelização dos índios.
O desenvolvimento ulterior

Naquele tempo as atividades dos religiosos em várias regiões do país eram a instrução e assistência moral e religiosa do povo, e a propagação da devoção mariana. Em
1635 os carmelitas no Brasil eram mais ou menos 200. Houve mártires entre eles: frei Luís do Rosário, lançado ao mar por piratas holandeses e frei Antônio da Encarnação assassinado por ter censurado a vida errada de um português. Os dois acontecimentos se deram no ano de
1619. Na época da invasão holandesa de Pernambuco alguns padres foram presos, outros conseguiram fugir.
Acolhendo o desejo de independência expressado já desde
1635, em
1640 o Prior Geral
Teodoro Straccio instituiu a província brasileira, mas os protestos do governo português anularam esta disposição. O único resultado que ficou, foi a divisão em duas vice-províncias: a do
Estado do Brasil, com 9 conventos (Olinda, Salvador, Santos, Rio de Janeiro, São Paulo, São Cristóvão, Paraíba,
Angra dos Reis, Mogi das Cruzes); e a do
Estado do Maranhão, com 3 (São Luís, Belém e Gurupá). Em
1648 o Capítulo Geral da Ordem tentou uma vez mais a instituição da Província do Brasil, sem resultado. Em
1675, como nos mostra um catálogo, o número dos religiosos era de 186 na Vice-Província do Brasil e de 60 na Vice-Província de Maranhão.
No Estado do Brasil

Em
1685 as casas do Estado do Brasil foram divididas em outros dois vicariatos: o do Rio de Janeiro, com os conventos de
Rio de Janeiro, Santos, São Paulo,
Angra dos Reis,
Mogi das Cruzes, Vitória do Espírito Santo (fundado em
1685); e o da Bahia-Pernambuco com os conventos de Olinda, S. Cristóvão, Paraíba, Recife (1654), Goiana (1666), Salvador ou Bahia, Rio Real. Por Breve do papa
Clemente XI, de
20 de Abril de
1720, estes dois vicariatos foram constituídos em províncias independentes de Portugal e autônomas: as duas províncias eram assim a da Bahia-Pernambuco e a outra do Rio de Janeiro.
A Província do Rio de Janeiro tinha já fundado no entanto a missão de Marvin (SP), e a residência de
Itu (SP) em
1719, que terá igreja e convento reconstruídos em
1765; em
1721 contava 204 religiosos, entre sacerdotes, estudantes clérigos e irmãos leigos.
A província de Bahia em
1720 contava 80 religiosos professos, além de diversos padres que moravam fora do convento, em fazendas, e mais de 25 religiosos com residência em
Lisboa. Esta província funda a missão de
Sirinhaém (PE) em
1729 e a residência de
Alagoas em
1732.
Então, no vicariato da Bahia em
1677 o Frei João de S. José e outros 4 ou 5 padres tiveram a permissão de viver no convento de Goiana e de seguir a reforma iniciada na França no ano de
1636 na província Turonense. Em
1683 o Prior Geral
Ângelo Monsignani deu a eles normas (chamadas de «13 artigos») e nomeou o Frei João comissário geral. No ano seguinte o Frei João é autorizado a tomar conta do convento da Paraíba e, em 1686, do conventinho perto de Recife (atual convento da Piedade). A reforma se difundiu em outros conventos e em 1725 foi elevada a Vicariato. Em
1744 tornou-se Província reformada independente (província de Pernambuco) com as casas de
Goiana, Recife e Paraíba, 6 residências ou missões no Brasil e uma hospedaria em Lisboa (Portugal). Os frades nesta época eram aproximadamente 100.

O ciclo missionário no Maranhão
As casas no Estado do Maranhão eram separadas do resto do Brasil e se desenvolveram independentemente, não se destacando contudo de Portugal.
Este vicariato realizou missões no interior do Amazonas ao longo dos rios
Negro e
Solimões (
1695-
1755), desenvolvendo intenso trabalho com os índios. Não começou por impulso missionário "puro", mas é consequência de uma política deliberada por parte do Estado colonialista português à procura da segurança e consolidação das fronteiras conflitantes entre Império espanhol e Império lusitano. Os carmelitas atuaram através do sistema comum tripartido daquela época: convento, fazenda, aldeamento; e administravam uma rede importante de aldeamentos na primeira parte do
século XVIII. Assim, além de vilas e lugares, eles têm várias aldeias, como as de
Barcelos,
Moura,
São Gabriel,
Taraucá, no Rio Negro; as de Javan, Jatal, Coan, etc., no Rio Solimões; o que lhes foi tirado por alvará de
1755, as missões, passando a freguesias, foram desaparecendo aos poucos.
Para o sustento das obras em todas essas regiões, os missionários contavam com doações de terras, possuindo várias fazendas com criação, casas e escravos. Houve, inclusive, abusos de alguns em questões de compra e venda ou no trato dos indígenas.
Época áurea do Carmelo
Os séculos
XVII e
XVIII constituem a época áurea do Carmelo brasileiro, com vasta distribuição geográfica de conventos, subdivididos em 3 províncias distintas (Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco) e mais o vicariato do Maranhão e Pará. Grande era o incremento vocacional e eficaz a presença pastoral na vida do povo. No final do século XVIII no Brasil estavam quase 500 religiosos carmelitas.
As atividades pastorais eram sobretudo as da pregação, da sacramentalização, da devoção mariana. Nas províncias, vários conventos eram sedes para os estudos de humanidade, de filosofia e de teologia. Alguns religiosos participavam da vida cultural da época.
Vários carmelitas foram famosos pela santidade, entre os quais os veneráveis
frei Luís do Rosário (1591-1619), frei Jeronymo Pessoa (†1629), frei João de São José, e o irmão leigo frei Gonçalo da Mãe de Deus (†1654), do qual se deu início ao processo para sua beatificação.
O Carmelo brasileiro deu também à pátria personagens ilustres e valiosos como:
Declínio e restauração
Como outras Ordens, a Carmelita entrou em declínio nos últimos anos coloniais e no tempo do Império. Como consequência da pouca vivência do carisma e mais tarde com a proibição em 1855 de se receberem noviços e abrir novas casas pelo governo imperial, a Ordem chegou quase a extinção.
No Rio de Janeiro, pelo decreto do despejo real em
1808, o
Convento do Carmo foi convertido em paço da cidade e depois no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, assim como a
Igreja do Carmo foi transformada em capela real, depois imperial. Os carmelitas mudaram-se provisoriamente para o convento de Nossa Senhora de Oliveira e em
1810 receberam por doação o antigo seminário com capela anexa de Nossa Senhora da Lapa do Desterro.
Após algumas contendas e discórdias com religiosos do Maranhão, os do Pará ligam-se à província carmelitana fluminense. Os do Maranhão conseguem alguns noviços do parlamento provincial (1838) e tentam incorporar-se à província da Bahia (1858); o que não foi levado a efeito.
Em
1888 o vigário geral da Ordem, Frei
Angelo Savini, promoveu a primeira tentativa de restauração no Brasil: três religiosos (dois malteses e um irlandês) chegaram para esta finalidade, em Recife. Mas alguns meses depois a tentativa fracassou.
Com o advento da República, em
1889, proclamou-se a separação da Igreja do Estado e as Ordens religiosas podiam de novo desenvolver-se livremente. Porém, com profunda mágoa escreve Dom
Antônio Ferreira Viçoso, bispo de
Mariana: «Os carmelitas e franciscanos estão divididos no Brasil em diversas províncias com seu provincial, mas cada um com poucos religiosos, uns poucos nas capitais e o resto dos conventos com um só ....» (ap. J. Dornas Filho,
O padroado e a Igreja brasileira, São Paulo, 1938, 29). Nota-se que em
1890 havia no Brasil apenas 8 carmelitas (3 no Rio de Janeiro, 2 na Bahia, 1 em S. Luís do Maranhão e 2 em Pernambuco). A quase totalidade dos conventos estava abandonada e em ruínas.
Em
1891 os mosteiros e conventos das Ordens e Congregações religiosas passaram à jurisdição dos bispos. Neste mesmo ano morre o último religioso carmelita da região Norte e o ministro do Interior incorpora a maior parte dos bens dos carmelitas ao patrimônio da União; o convento de São Luís foi vendido e o de Belém passará para os
salesianos(1930). Sucessivamente, de novo se impulsionou a restauração do Carmelo brasileiro por outro prior geral, o Frei
Luigi Galli, que pediu à província da Espanha para assumir esta missão. Em
1894 alguns carmelitas espanhóis se estabeleceram em Recife e dois anos depois restauraram Angra dos Reis e Rio de Janeiro.
Em
1900 os espanhóis tomavam a decisão de concentrar as próprias forças somente na restauração das províncias da Bahia e de Pernambuco. O Prior Geral, Frei
Pio Mayer, pediu ajuda aos carmelitas holandeses que em
1904 enviaram 6 padres e 1 irmão para assumir Rio de Janeiro e outros conventos abandonados.
Ao convento de Recife se ajuntou, em pouco tempo, o convento de
Goiana, reaberto e as fundações novas de
Gameleira (1920) e Princesa Isabel (1938). Posteriormente, com vocações brasileiras, foi possível erigir um Comissariato de Pernambuco. Este se tornou regido de maneira autónoma pelos próprios brasileiros quando os espanhóis retornaram à sua pátria. Após a transformação em Província (1949), deram-se as fundações de Campina Grande (1953) e de ]]Camocim de São Félix]] (1953). Em 1967 foram fechados a casa de Gameleira e o convento de
Campina Grande. O convento de Piedade em
Jaboatão dos Guararapes foi restaurado em 1990. Pelo aumento das atividades vocacionais-formativas e missionárias foram erigidos recentemente os conventos de
Petrolina (1998), Cajueiro Seco - Jaboatão dos Guararapes (1999),
Carmópolis (2000),
Aracaju (2002).
Reforçada de contínuo com vocações holandesas, além das brasileiras, em
1922, reergue-se a Província do Rio de Janeiro que foi, antes do Concílio Vaticano II, uma das maiores da Ordem. Foram restaurados vários conventos: Lapa no Rio de Janeiro (1904), São Paulo (1905), Angra dos Reis (1906), Santos (1906), Itu (1917), Mogi das Cruzes (1919). Novas fundações são: São Paulo (
Itaim Bibi, 1940),
Belo Horizonte (1941), Rio de Janeiro (Vicente de Carvalho, 1947),
Jaboticabal (1948),
Unaí (1965) e
Brasília; também se abriram várias residências (
Taguatinga, etc.) e foram feitas algumas outras tentativas de fundações.
Em
1929 os Carmelitas da Província do Rio tomavam o encargo de desenvolver a
Prelazia Apostólica de
Paracatu, hoje diocese. Em
1952 a esta Província foram unidos os dois conventos sobreviventes (Salvador e Cachoeira) da Província da Bahia, que até aquele tempo eram ajudados pelos padres espanhóis de Pernambuco. Em
1954 alguns Padres da Província do Rio foram a Portugal para a restauração da Ordem naquela terra.
Actualmente (dados de 2001) os Carmelitas, em duas Províncias e um Comissariado, presentes no Brasil são 155, incluindo 5 bispos. Trabalham em paróquias, comunidades de base, e alguns dedicam-se ao ensino em estabelecimentos públicos ou particulares. Mantém os Museus do Carmo da Bahia, da Lapa no Rio e o de Camocim de São Félix em Pernambuco, e outras atividades particulares. A Província de Pernambuco, em
1998, assumiu um compromisso missionário no continente africano em
Gorongosa,
Moçambique.
Outros membros do Carmelo Brasileiro
As monjas carmelitas chegaram ao Brasil em
1948, quando Dom
Gabriel Paulino Bueno Couto era bispo auxiliar de
Jaboticabal. Aí foi criado um mosteiro, com monjas provenientes da Holanda, e hoje floresce com vocações brasileiras. No ano 2001 a comunidade tinha 11 monjas. Outra fundação, em
1991, foi em Paranavaí, onde vivem 8 monjas.
As irmãs carmelitas de vida ativa aparecem no ocaso do
século XIX, quando a primeira Congregação feminina brasileira é iniciada. Uma viúva, Rita da Cássia Aguiar, toma o hábito da Ordem no Carmo da Lapa (Rio de Janeiro), recebendo-o do prior Frei Carmelo Pastor Mol, em
2 de Dezembro de
1899, tomando o nome de Maria das Neves. Pouco a pouco a Congregação se organiza e toma o nome de
Irmãs Carmelitas da Divina Providência, que se dedicam a servir a comunidade humana e eclesial, através principalmente de atividades de educação e saúde, com atenção especial aos mais pobres. Atualmente (dados de 2001) a Congregação tem 44 casas nas várias dioceses do país com 291 irmãs; e uma missão no
Equador.
Em
1938, Frei
José Maria Casanova Magret inicia também no Nordeste uma nova Congregação religiosa feminina: as Irmãs Missionárias Carmelitas de Jesus. Com algumas jovens e uma religiosa egressa beneditina dá inicio ao grupo que logo cresce e considera como fundadora a Madre Carmelita (Afra de Sá Ferraz). Atualmente (dados de 2001) a Congregação que tem 68 irmãs e 14 casas em dioceses das Regiões Nordeste e Norte, trabalha nos campos da educação, assistência a menores e pobres, e saúde.
Em 1948 as Irmãs
Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus (fundadas na Itália em
1925) assumiram uma casa em Paracatu para o serviço da Prelazia, hoje diocese. Atualmente estão difundidas com religiosas brasileiras, em 10 casas, nos estados de Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal, exercendo atividades de educação das crianças e da juventude e outros trabalhos pastorais nas dioceses.
Desde o ano
1986 temos a presença das Carmelitas do Instituto de Nossa Senhora do Carmelo, em
Manaus.
Enfim, a
Ordem Terceira do Carmo, que teve sua autorização e criação em
26 de janeiro de
1587. Difundiu-se rapidamente em muitos lugares. Atualmente os sodalícios continuam numerosos e atuantes nas várias partes do Brasil. Nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Distrito Federal, os sodalícios são 47; mas, no entanto alguns estão em fase de reestruturação. Conjuntamente com os grupos de estilo tradicional, encontramos a fraternidade de Carmelitas Leigos de Belo Horizonte, dirigida pelos próprios leigos para viver no mundo o espírito do Carmelo. Existe também no Rio uma comunidade da Família Missionária “Donum Dei”, instituição filiada à Ordem em 1987.
As
Confrarias do Escapulário estão espalhadas em todos os Estados da Federação brasileira. Muitas destas confrarias têm uma longa história e tradição. De
1910 a
1980 o número total de confrarias erigidas é de 146. Além destas, de recente, só na diocese de Petrolina, nestes últimos anos, elas são mais de 100.
Para completar esta nota sobre o Carmelo no Brasil, é oportuno lembrar que os Carmelitas Descalços tinham uma presença no Brasil na época colonial com religiosos da Província lusitana na Bahia e Pernambuco. Após a independência (
1822) foram expulsos do país porque eram a favor de Portugal. Só retornaram em
1911; e hoje estão presentes em várias partes do país com duas Delegações Provinciais e uma Província. As monjas Descalças estão presentes no Brasil desde o ano
1742 e estão difundidas com casas em várias dioceses. Também estão presentes algumas Congregações femininas de Irmãs Carmelitas agregadas aos Descalços: Carmelitas Missionárias Terceiras Descalças (chegadas da Espanha em
1959), Carmelitas Servas dos Pobres (fundadas no Rio de Janeiro, em
1950 para a recristianização da família operária e assistência aos pobres), Carmelitas da Caridade (chegadas da Espanha, em
1952), Carmelitas Missionárias (chegadas da Colômbia em
1988).
O Brasil é hoje o país da
América Latina onde o Carmelo tem uma presença mais forte. Como um todo e uma família, o Carmelo brasileiro está a crescer lentamente, mas está a crescer. Face aos vários problemas e desafios, a Família Carmelitana transmite os valores carmelitas de formar comunidades de oração no meio do povo, tendo como base a leitura orante da palavra e estando ao redor da mesa eucarística.